quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Lições da Vida

Ontem estava conversando com uma velha amiga sobre tudo o que aprendi com toda essa situação, e ela me sugeriu que publicasse isso aqui ou no flog...Porque talvez seja o melhor conselho que eu poderia dar a uma mulher que pretende ser mãe.

Para encarar uma gravidez, é extremamente necessário que se tenha o mínimo de duas coisas: estabilidade financeira e o apoio do parceiro.

Minha gravidez, não sei se já comentei com vocês, não foi planejada. Na verdade foi uma surpresa BEM inesperada, e o começo, como qualquer coisa inesperada que COM CERTEZA vem mudar nossa vida de forma DEFINITIVA, foi bem confuso. Eu estava morando num lugar distante da minha família e dos meus amigos mais próximos, enfrentando dificuldades financeiras, começando do zero, tinha acabado de arrumar um emprego bom, mas deveras desgastante...Meu namoro estava numa boa fase, mas também vínhamos de algumas experiências um pouco desagradáveis e sabíamos que era hora de "pegar leve", concentrarmo-nos muito mais em nosso crescimento profissional antes de fazer quaisquer planos...E esse crescimento aos poucos, estava vindo. Aos poucos, tudo parecia começar a funcionar...

Mas, o que tem que ser, tem que ser. E nem sempre tudo sai conforme o script.

Foi um começo difícil, sofrido: o mal-estar físico junto com o incrível estresse psicológico criou uma montanha-russa emocional que, literalmente, me deixou de estômago virado por muito tempo. Talvez por isso, talvez não, tive complicações muito sérias, vivia no pronto-socorro, passei o primeiro e o segundo mês em ameaça de aborto. Em mais de uma ocasião eu tive a certeza de que aquilo não ia acabar bem. Tive a certeza de que nada daquilo sobreviveria: nem meu bebê, nem meu emprego, nem meu relacionamento.

Eu conheci nessas ocasiões, uma dor que não dá pra descrever. Eu soube o que era estar sozinha, absolutamente sozinha, num lugar estranho, sem nada, sem ninguém, sem perspectiva. Apenas com muito, muito medo. Muitas dúvidas e nenhum consolo, nenhuma esperança. Foram, de longe, os piores momentos da minha vida.

Mas, Graças a Deus, para mim, foram apenas momentos.

Eu não tive a experiência de planejar e festejar a notícia da minha gravidez. Eu não tive a tranqüilidade absoluta para passar os dias cuidando de cada detalhe do enxoval da minha filhinha. Eu não tenho a folga financeira essencial para montar tudo do "ótimo" e do "melhor ainda", como eu gostaria de fazer, e também por esse motivo não pude cuidar de mim como eu sempre imaginei que faria durante esse período. Mas tenho o apoio da minha família, que me trouxe de volta para junto deles, me garantiu um lugar para morar, comida na mesa e um plano de saúde para o pré-natal e o parto. Fazendo "bicos" como roteirista numa produtora de vídeo, se não ganho muito ao menos tenho a satisfação de poder ganhar experiência e agregar ao meu porfolio, trabalhos dos quais eu realmente me orgulho, também porque amo demais o que faço.

Mas não há dinheiro nesse mundo que pudesse comprar a emoção e a felicidade de poder dividir a expectativa e o amor por essa criança com o pai dela...O homem que eu amo, que comigo gerou essa vida tão bem-vinda, tão esperada e amada..! Ter ao lado esse espelho de alegria, de espera e de orgulho de ter um filho que é o pai, tudo o que tem de mais belo e otimista na gestação se multiplica..!

É sabido que "ser mãe é padecer no paraíso". E eu entendo bem o porquê: é uma felicidade tão plena que supera infinitamente todo e qualquer incômodo gerado pela mesma condição. Mas para isso - eu repito - é necessário um mínimo, que eu repito: estabilidade financeira e o apoio do parceiro.

Eu não me esqueci dos meus poucos, porém profundos, episódios de tristeza e insegurança. E por isso mesmo me pergunto como sobrevivem as mulheres para as quais isso não é uma fase nem uma situação isolada, e sim uma realidade duradoura e definitiva: mulheres pobres, sem quaisquer condição financeira , abandonadas pelas famílias, ás vezes expulsas de casa, desamparadas pelos parceiros, desprezadas pelos pais de seus bebês...Mulheres grávidas até mesmo de homens que não amam, por descuido ou por estupro (o cúmulo da violência), mulheres que não têm ninguém por elas... E muitas que por muitos motivos consideram sua gravidez uma desgraça.

Em nenhum momento, por pior que fosse, eu lamentei ou amaldiçoei a vida que eu tenho dentro de mim...Uma vida feita de amor, concebida pelo amor, prova de tudo o que é mais sagrado, importante e maravilhoso que já havia acontecido para mim...Muitos medos passaram por minha mente, mas ao menos uma felicidade estava lá, constante, para me confortar Não importa o que acontecesse dali para frente, eu trazia dentro de mim a prova de que conheci a felicidade perfeita. Eu seria mãe de uma criança nascida dessa felicidade, alguém que merecia totalmente que eu a fizesse feliz também. Foi nesse momento que minha vida de fato ganhou sentido. Tudo poderia ser mais complicado, mais difícil...Mas nunca mais seria em vão. Naquele momento eu não sabia de nada. Não sabia que teria a sorte que eu tive. Mas acho que foi ali também que eu soube que, independente de todo o resto, eu era sim, capaz de ser mãe.

A vida, devagar, vai seguindo seu caminho. Batalho pela independência financeira, por uma estabilidade que garantirá o futuro da minha filha, cada vez mais perto de vir ao mundo. Batalho para me firmar numa carreira que escolhi e para a qual eu acredito que tenha toda a habilidade e capacidade necessárias para vencer. Ao meu lado está meu parceiro, o homem que amo mais que tudo, o homem que Deus pôs no meu caminho como se fora um presente sob medida, aquele com o qual eu desejo dividir minha vida e tenho muito orgulho de saber que é pai de minha filha. Ele batalha comigo pelos mesmos ideais, e seu amor é a estrela que me guia todo o tempo. Nossas lembranças e momentos felizes são o que tornam o trabalho mais leve, a necessidade menos urgente, o desconforto menos incômodo, e transforma qualquer dificuldade em um desafio que aceito com coragem.

Sofrer, todos nós sofremos em algum ponto. Mesmo superando, as lembranças amargas muitas vezes persistem. Mas poder compansá-las com doces lições é o que faz tudo valer a pena. Eu aprendi valores inestimáveis, que talvez nunca tivesse compreendido tão intensamente, se não fosse às custas de alguns obstáculos.

Valeu a pena.

Nenhum comentário: