terça-feira, julho 24, 2007

Overbook de idéias...


Foto: Rosa Moraes

Todo dia eu penso em umas mil coisas pra escrever aqui. E acabo escrevendo nenhuma, porque o que sai é algo sobre o acidente com o JJ3054. E eu já estou meio farta com isso. Poxa vida, eu me casei, tive a melhor noite de núpcias que eu poderia imaginar, rolaram duas festas dignas de comentários, meu marido viajou...E tudo isso passou em branco. Exceto o JJ3054.
Acho que é porque, apesar de não ser a primeira vez que isso acontece fisicamente muito perto de mim, talvez seja a primeira em que eu me deparei com o cadáver de um conhecido. A primeira em que pude sentir, ver, cheirar, tocar e perceber o pedacinho da minha vida que o acidente destruiu, queimou, arrasou. Não foi uma imagem na TV, não foi "algo que aconteceu aqui perto", simplesmente. Foi algo que entrou no "meu mundo" e me afetou muito mais do que eu achei que poderia. E isso é chocante e perturbador e me fez pensar em algo que eu acho que nunca tinha conseguido DE FATO ponderar: nos últimos momentos das vítimas. Em tudo o que elas podem ter experimentado entre o momento que perceberam que algo estava errado, e o último fôlego. Eles haviam pousado, os trens de pouso no solo. Seria a hora em que eu me benzeria e agradeceria a Deus por ter corrido tudo bem. Mas o avião não reduz a velocidade. Ainda assim, sem ver a cabeceira da pista, não me preocupo: por algum motivo o fato dos trens de pouso já estarem no chão, me dariam uma impressão de segurança. Eu olharia pela janela, veria o terminal passando rapidamente. A cabeceira. O posto e o prédio da TAM Express parecendo cada vez mais próximos. O fim da pista.
"Ele não vai parar." - e talvez esse teria sido meu último pensamento.

Em 2003 peguei um vôo da GOL de Curitiba para São Paulo, onde aterrisamos em Congonhas em condições adversas, tal qual a última terça feira. O dia estava cinzento, frio e chuvoso...foi num fim de tarde de Agosto. Foi a primeira vez que pousei em CGH, e por mim teria sido também a última. Toda a aproximação foi um terror: eu vinha encolhida na poltrona, com a sensação de estar "lambendo" os prédios da cidade, apavorada com a possibilidade de perder uma asa em alguma antena, juro. E, quando pousamos, na pista principal (mas, se me recordo bem, com o sentido de aproximação inverso ao do 3054), o avião também estava rápido demais. Não parava. E o trem de pouso não tocava o solo. Eu, sentada bem no meio do avião, não conseguia ver o quanto ainda tinha de pista pela frente. Mas achava que estava indo rápido demais. De repente, o trem de pouso toca o chão, mas da forma mais violenta possível. A impressão é de que o avião tinha "caído" uns três metros na perpendicular. Os bagageiros abriram, todo mundo se assustou. E eu saí tão transtornada da cabine que quase esqueci de pegar minha bagagem na esteira.

Até a semana passada, sempre achei que eu me lembrava desse episódio de uma forma um pouquinho mais dramática do que ele realmente tinha sido: primeiro porque tenho mesmo-admito- um pavor quase irracional de aviões (adoro vê-los, mas VOAR, neeem a pau!). Segundo, porque eu só estava naquele vôo pra resolver uma situação tensa e delicada na minha vida: havia ido para Curitiba naquela mesma manhã, de ônibus. Mal cheguei na rodoviária, tive de ir ao aeroporto, comprar uma passagem e voltar com urgência. Foi extremamente estafante, mental e fisicamente, além de ter sido o maior gasto inútil de dinheiro em toda minha vida.
Hoje vejo que talvez não tenha sido só um pânico exagerado meu. Aquele avião parou, mas e se não tivesse parado? Se tivesse aquaplanado, ou se o sistema de frenagem não funcionasse de forma eficaz, ou se ele viesse irremediavelmente rapido demais para a (hoje declaradamente) curta pista de CGH? Ele atravessaria a pista, seria um novo 402 a se esborrachar sobre as casas do Jardim Aeroporto.

Mas ao contrário das vítimas daquela fatalidade, que tiveram 25 mórbidos segundos para compreender a situação, eu só teria tido tempo de pensar uma coisa.

"Ele não vai parar."


E assim eu encerro,DEFINITIVAMENTE, meus comentários nesse blog sobre a tragédia do TAM-JJ3054.

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