sexta-feira, abril 29, 2011

Emboscova

Outro dia eu e meu digníssimo tivemos (mais uma) discussão sobre o banheiro. Como todos sabemos, o banheiro é aquela nova Acrópole do casal, onde cada um recebe conhecimentos intensos sobre o outro, e templo da paciência e convivência familiar, onde todos os pecados são purgados espiritual e fisicamente.
No capítulo anterior foi mencionada a tal caneca vermelha que meu marido decidiu transformar em item de banheiro. Até aí, tudo bem, mas o problema é que para ele, não basta ser útil, tem de ser DECORATIVO! E, vamos e venhamos, aquela caneca não é nada estética


Pia do banheiro com e sem a tal caneca e o desodorante que ele insiste em querer que fique em cima da pia. Como concessão, permitimos que a colônia fique exposta, devido a seu frasco discreto e harmônico com o ambiente.

É uma caneca feiosa, vermelhona, que ficou esquecida na mesa de trabalho de um ex-colega de trabalho do meu marido. Na verdade era uma colega, a Jô. Gente boníssima, pessoa legal mesmo. Se fosse só pela lembrança dela, eu até veria algum sentido em deixar a caneca lá. Muito embora algo me diga que é uma homenagem estranha preferir deixar a caneca no banheiro. Coisa estranha ter lembrança dos outros no banheiro, que eu acho que é o único lugtar em que a gente nunca quer muito lembrar de ninguém, quer mais é esquecer que os outros existem. Mas até que hoje em dia, com um monte de opções interessantes para esse sanitário cômodo (ou será um cômodo sanitário?), é impossível não considerar alguma dessas novidades para agradar um aniversariante ou até mesmo uma querida casadoira. Rádios para banheiro, mesas de laptop para vaso, kits de pia enfeitados com flores, glitteres, pisca-pisca. Tem até cortina plástica de Box que serve como porta-retratos. Vire-a para dentro e você pode ter todos os seus amigos e parentes como platéia para seu banho.
O que passa pela cabeça de alguém que presenteia um amigo com uma escova de privada, por exemplo? “Olha, quando der alguma bosta, pode contar comigo?”
N-O-B-A-N-H-E-I-R-O. Poderia deixar no escritório, onde eu acho que ela até estava. E estava ótima lá, totalmente integrada com a decoração vermelho-Ferrari do ambiente. Não tinha nada de ir parar no meu banheiro!


Não tem nada a ver com a decoração do banheiro. Além do quê, a presença daquela caneca ali encoraja o Sr. Caio Luiz a fazer coleção de lâminas de barbear descartáveis. É incrível como ele ainda tem coragem de guardar a escova e a pasta na mesma caneca! Eu não coloco a mão ali de jeito nenhum, é a maior armadilha!


Escova de dentes sendo coagida por seus colegas afiados

Fala sério. Pra quê alguém mantém 1, 2, 3, 4...CINCO aparelhos de barbear em uso? Se ele ainda fosse todo lisinho, praticante de natação, metrossexual, careca do ABC, sei lá, ainda talvez faria algum sentido... Mas peludo do jeito que é – DEFINITIVAMENTE, nada justifica essa convenção de giletes na minha pia. É anti-estético, anti-ético e anti-higiênico.
Não é a primeira vez que discutimos a presença dessa caneca sobre o mármore do gabinete. Acontece que, da vez passada ele encerrou a discussão dizendo que a caneca ficaria ali por vontade e decisão dele.
Na época, eu concordei, quer dizer: eu me conformei em não tirar a tal caneca de lá. Porque ele tinha razão; ele é o homem da casa, tem o direito de querer que algumas coisas sejam daquele jeito e pronto, oras... Justo ele que tantas vezes se queixou que a decoração não tem nada a ver com o nosso estilo...
Nossa casa foi decorada pela minha sogra. Ela tem esse “dom”, esse bom-gosto para deixar tudo bonitinho. Como eu nunca liguei para isso, claro que não tenho noção nem pra deixar as coisas do jeito que eu quero. Quem conheceu nossa primeira casa em Manaus que o diga. Ok, eu não achava que a fachada ia ficar com aquela combinação bizarra de cores, que o telhado ia ficar tão pouco prático, ou que as 25 almofadas na cama iriam ser mais um incômodo que um conforto. Mas, pelo menos estava exatamente como eu havia decidido... hehehehe!
Por isso mesmo, resolvi aceitar de bom grado tudo o que ela sugerisse para a decoração da nova casa. Fosse como fosse, pelo menos eu teria certeza de que ficaria bonito. E ficou chiquérrimo, lógico. Por isso mesmo eu me esforço para me expressar o mínimo possível no ambiente, até poder fazê-lo com classe...

...cuja definição não abrange canecas vermelhas de brinde!

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