domingo, abril 24, 2011

Não interessa...

Lendo uma matéria da Veja sobre os efeitos do aquecimento global nos 40 anos passados, comecei a pensar sobre o quanto a humanidade ainda é jovem e pequena no conhecimento da Natureza. Nos gabamos de já ter ido tantas vezes a Lua a ponto de declara-la “território conhecido”... Mas até hoje não há nenhuma explicação definitiva para o por quê dela existir e influir tão fortemente nas pessoas e nas marés. Sabemos que as coisas são assim, mas ainda nem começamos a pensar o porquê de serem. Tenho a impressão de que essa pesquisa, esta busca, parece uma questão até agora muito mais religiosa do que acadêmica, sendo que mesmo o cientista mais pragmático e inteligente do mundo teria de admitir que, após um certo ponto na fisiologia da Terra, ele não sabe o que pode ter acontecido um nanosegundo antes de até onde ele sabe. Até para os ateus, Deus começa onde termina o que chamam de ciência.O que eles não percebem é que qualquer crença, qualquer valor, qualquer conhecimento ou idéia na qual o descrente baseie sua existência, é, na verdade, uma descoberta humana do mecanismo divino. Einstein traduziu para a física alguns destes mecanismos. Você pode não acreditar em Deus, mas não pode negar que energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao quadrado. Isso é uma forma de compreender uma espécie de lei divina, que os humanos deram o nome de “fórmula”, e muitos pensam que é uma invenção deles. Criacionistas e evolucionistas sentem o vento, sentem frio, fome, vontade de acasalar.Tudo o que existe sobre a Terra está sob efeito da gravidade, e todo ser vivo depende de H2O para sobreviver. Não importa no que cada um acredite: ambos são regidos pelo mesmo princípio de vários nomes: Ciência, Natureza, Deus. Talvez o correto seria dizer que todos buscam a ciência da natureza divina, já que todos os seres humanos estão buscando a mesma coisa: o conhecimento sobre esta mecânica comum a todos os seres, o princípio definitivo entre tudo o que existe.
Mas a verdade é que a humanidade até agora não decifrou totalmente nem a própria história. Sabemos que os egípcios, por exemplo, construíam pirâmides, mas não sabemos direito nem como e nem por quê as construíam naquele formato. Descobertas de Pirâmides no Egito, múmias incas, pinturas rupestres e fósseis de dinossauros são considerados “avanços da ciência”, mas deveriam ser apenas uma lembrança à humanidade do quão lentamente ela vai fazendo suas descobertas, e do quanto perdemos em documentação de eras passadas, seja por desgaste, catástrofe ou mesmo eventos desconhecidos. Toda a tradição, cultura, crença e valores de um povo, seja em que região ou época, não é nada além de sua interpretação particular das leis universais, de acordo com as condições fisiológicas de cada habitat. O que foi transmitido de gerações para gerações através dos tempos, permanece. O que foi deixado de pensar e se transmitir, perece.
Vejamos o caso da roda: invenção tão genial, tão perfeita e tão útil que revolucionou a história de toda a humanidade, e conseqüentemente, do planeta. Hoje, não existe uma pessoa sequer no mundo que consiga imaginar a vida sem a roda. Mas ninguém mais faz a mínima idéia de quando e onde surgiu a primeira roda. Muita gente sabe quem inventou o cinema, o avião, o computador, o i-pod. Ou mesmo quem descobriu a energia elétrica ou quantas civilizações antigas utilizavam água encanada. Mas ninguém mais lembra quem inventou a roda. Aposto que Cleópatra também já não soubesse.
Há uma teoria de que os Incas da América do Sul não utilizassem a roda, porque a forma redonda era considerada sagrada por este povo que adorava o Sol. Como podem ter construído Macchu Picchu sem usar uma roda, uma carroça? Não teriam pensado os Incas que talvez a redondeza da roda poderia estar justamente sinalizando uma ferramenta sagrada que iria auxilia-los nas mais diferentes tarefas? Ou talvez esta limitação fora justamente a responsável pelo desenvolvimento da tecnologia misteriosa dos Incas, que até hoje nos intriga e fascina?
Não sabemos quem inventou a roda, não sabemos como os Incas se viravam sem ela, não fazemos a mínima idéia por quê o calendário Maia termina em dezembro de 2012. Mas tenho um palpite de que isto acontece devido a completa falta de noção que o ser humano tempo de tempo.
Pense em uma quantia de um milhão em dinheiro. Como dinheiro é um elemento um tanto abstrato, eu posso escolher várias formas de representa-lo fisicamente. Pense em um milhão de reais em notas de R$ 100. Vamos supor que eu mostre estas notas para alguém e peça para a pessoa adivinhar quanto dinheiro tem ali. Se não for uma pessoa acostumada a lidar com valores dessa magnitude em espécie, dificilmente ela acertará. Sinceramente, eu nunca vi um milhão de reais em dinheiro vivo, e provavelmente nunca vou ver. Mas vamos fazer de conta que eu realmente precise ter uma dimensão da situação, para um filme, por exemplo.

Um senhor viúvo, pobre e extremamente simplório vive num lugar afastado perto de uma cidade pequena, com seus cachorros, sem ter muitos amigos. Seu objeto de estimação era um exemplar antigo do “Tio Patinhas”, que um filho que foi tentar a vida na cidade grande um dia trouxe de presente, como uma grande novidade, antes de nunca mais voltar. Toda semana, o caipira viúvo vai á cidadezinha comprar mantimentos e fazer uma fezinha na loteria. Um dia, ele ganha um milhão de reais e vai buscar o dinheiro. Na hora de receber, pede o valor em dinheiro vivo e acha pouco dinheiro. Pede para a caixa pagar em notas menores. Ela faz montes de notas de R$50. Ele ainda acha pouco. A mulher oferece de 20, de 10. Qual o volume de um milhão de reais em notas de R$5? E em moedas de R$1? R$ 0,50? R$ 0,25? Um centavo..?!?

Claro que a idéia do velho é nadar no dinheiro. Sonho maluco que ficou tendo de tanto ler o gibi do Tio Patinhas. É um desses curtas de comédia dramática. Provavelmente termina com o velhinho morrendo de infarto mergulhado em dinheiro – dinheiro que ele não cobiçava por nada, além do sonho de nadar em cédulas. Alguma lição de moral incorruptível com o propósito justamente de ser mal-interpretado por alguns como uma demonstração de ganância. Seja como for, o roteiro não importa, o que eu quero é que você visualize o figurino e me auxilie a fazer idéia do tamanho a que pode chegar um milhão de reais. Porque mesmo não tendo esta noção, ainda podemos experimenta-la.


Mas... e quanto ao tempo? Você acha que tem noção de tempo? Como explica a nítida impressão de que os anos passavam mais devagar na sua infância? O que parecia um período de dez anos quando estávamos no primário? Dez anos eram uma eternidade. A humanidade toda pareceu superestimar sua capacidade de evolução tecnológica: achamos que, nos anos 2000, os carros voariam. Não foi bem assim: é que na verdade ninguém percebeu em 1970, por exemplo, que os anos 2000 chegariam tão rápido.
Não percebemos o quanto o planeta está sofrendo também porque não temos muita noção de como era melhor no passado. Em termos de aquecimento global, por exemplo, ou de poluição. Achamos que o caos está longe, porque não temos comparativo. Para mim, o Rio Tietê, em São Paulo sempre foi poluído. É algo “normal”. Estranho é ver fotos e ler depoimentos de pessoas que nadavam nele, participavam das regatas...Aposto que estas pessoas é que não acham nada normal que hoje você não pode entrar ali, é um rio morto sem peixes ou plantas, que pode matar quem entra em seu chorume. Essas pessoas, se ainda existirem, decerto estão muitíssimo idosas. Mas aqui em Manaus eu ouço histórias de pessoas da minha idade ou pouco mais velhas, contando sobre o Balneário do Parque 10, e de como era gostoso nadar no igarapé do Mindu: um córrego fedido aqui perto de casa, onde, se ainda existe até algumas espécies de peixes e plantas convivendo com o lixo e os resíduos, ainda assim não dá pra imaginar ninguém nadando ali.
A crise ambiental é irreversível porque é muito rápida. Vai vencer a humanidade antes que esta compreenda sua dimensão. E isto acontecerá pela noção distorcida que temos do tempo, e de como isto afeta toda a história.
Evolucionismo e Criacionismo coexistem e se opõe devido a um simples fato: ninguém consegue se lembrar como tudo começou. Diz a Bíblia que o mundo foi criado em sete dias, mas quem disse que estes dias tinham 24 horas como hoje? Se cada hora fossem milhares de anos, por exemplo, não precisaria haver discordância entre as duas correntes de pensamento: não haveria dúvida de que Deus criou o homem como ele é: porém, aos poucos, adaptando-o, melhorando-o, até estar apto a ser chamado de ser humano. Talvez o que a Bíblia chama de “barro”, seja a extensa linhagem de primatas, e seres anteriores a eles que evoluíram, até chegar no homem dotado de uma estrutura física e cerebral adequada para comportar o espírito. Este primeiro homem, este primeiro humano dotado de espírito, seria Adão.
E Eva, contam que foi retirada da costela de Adão: “não da frente ou de trás, mas do lado”. Isto poderia ser uma espécie de metáfora poética para demonstrar que Eva foi feita do mesmo material que o homem, isto é, saiu da mesma linha evolutiva. Porém, sua missão é um tanto diferente e completa a do homem. Um homem pode seguir sozinho, mas só será verdadeiramente completo com uma mulher. Assim como a mulher também pode seguir sozinha, mas só poderá ser completa com um homem. Porque homens e mulheres têm como um de seus poderes, o de serem pais, e isto requer necessáriamente, uma participação igualmente importante de ambos.
Feminismo, racismo, qualquer tipo de preconceito ou competitividade entre os sexos é mera corrupção inventada pela própria humanidade e não deveria ser levada a sério. É puro atraso de vida.Homens e mulheres são diferentes e complementais, como os dois lados de uma moeda. Só existe o dia porque existe a noite- agora compreendo esta idéia de forma mais clara que nunca. Equilíbrio. Só somos humanos porque somos machos e fêmeas, e somos todos manifestações de uma só força, como criacionistas e evolucionistas admiram a obra de um mesmo princípio de pontos de vista diferentes. A realidade é apenas uma ainda que os pontos de vista e interpretações sejam inúmeros. E serão, de acordo com as influências as época e do ambiente. A medida que a tecnologia avança e o estilo de vida muda, são perdidas tantas memórias da humanidade. Saber em que circunstâncias surgiu a roda, ou mesmo se foi inventada ou “descoberta”, seria revelador para sabermos mais sobre muitos aspectos do ser humano, porém, num mundo onde a comunicação era truncada, a documentação era escassa, a luta pela sobrevivência ocupava 100% do tempo e as invenções eram muito mais importantes do que celebrizar seus inventores, esta informação perdeu-se. E depois a construção das pirâmides, Stonehedge, a tradução dos hieróglifos, a Ilha de Páscoa. Algo desconhecido acabou com os dinossauros, o que será? Talvez tenha sido a mesma coisa que aconteceu com os Atlantes?
Estas civilizações foram grandes, evoluídas, recentes na história do mundo. Mas mesmo sobre elas, sabemos tão pouco, como queremos acreditar que um dia poderemos conhecer tudo sobre o Universo, colocando tanto a perder em tão pouco tempo?
Banhando-me nas cachoeiras e explorando as grutas de Presidente Figueredo, no Amazonas, imagino por quanto tempo as águas tiveram que correr ou gotejar por aquelas pedras para esculpi-las daquela forma. Não acredito que aqueles lugares eram tão diferentes há duzentos anos. Mas o que sei eu sobre duzentos anos, já que posso não viver sequer a metade disso? Pensar que aquelas grutas estão ali desde muito antes do Brasil ser descoberto. Quem teria sido o primeiro homem a chegar ali? Talvez poderíamos saber quem foi o primeiro aventureiro, o primeiro português, o primeiro proprietário que se apossou daquelas terras, mas jamais saberemos se foi e quem foi um índio,um fenício, um aventureiro pré-histórico. O homem conseguiu perder até mesmo a Arca da Aliança, criando dúvidas sobre sua existência. Dia a dia, ano a ano, milênio a milênio, a humanidade escreve e apaga a sua história. Isso cria um atraso enorme em seu conhecimento sobre o mundo. Perdemos tempos com guerras, ideologias, embate de idéias, quando ganharíamos muito mais se trabalhássemos em colaboração e harmonia , preservando a história e somando resultados. A humanidade globalizada já sabe que somos todos iguais, porém não admitem isso, não colocam isso em prática. Ao invés de buscarem afinidades em seus pontos fortes, apóiam-se em seus pontos fracos para atacar e dominar os outros.
A humanidade é imediatista.E é essa ânsia, essa necessidade do “agora” que distorce sua percepção do tempo e irá custar-lhe caro. É mais fácil jogar uma lata pela janela do carro do que esperar encontrar uma coleta de material para deposita-la. Não tem noção de que, provavelmente demorará mais tempo para o ecossistema recuperar-se da contaminação por aquela lata, do que demorará para que seus netos ou bisnetos sofram com os efeitos da poluição. O ser humano atual não tem expectativa de vida que ultrapasse muito os cem anos. Por isso, não é capaz de ter noção do que são mil deles. Dez longas vidas é um período inconcebível para quem está convicto de que só há uma, e é muito curta.
Precisamos, mais do que adquirir respeito pela humanidade, aceitar que somos todos criaturas de um mesmo princípio criador, e não podemos ir contra Ele, sob pena de sofrermos as conseqüências individual e coletivamente. E talvez a forma de sermos humildes perante a Natureza seja compreender que talvez nunca a decifremos completamente.

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