segunda-feira, abril 02, 2012

PikeNices! na Kalevala


Prato decorativo temático sobre a Kalevala, mostrando o sedutor Lemminkäinen indo pra farra e deixando a mãe preocupada...


Ok, eu já entendi que este blog nunca será uma opção de entretenimento para os que reamente apreciam uma boa leitura, mas ele serve de entretenimento pra mim, então eu vou me dar o direito de registrar uma coisa incrível que me foi recentemente apresentada e eu faço questão de compartilhar com vocês minhas impressões sobre o assunto: o épico finlandês KALEVALA, uma epopéia nacional compilada pelo lingüista Elias Lönnrot de cantos da tradição oral finlandesa, que conta de forma mitológica a criação do mundo, das terras da Finlândia e a saga de seus três heróis, Vainamoinen, Ilmarinen e Lemminkäinen através dos tempos.


A leitura de qualquer versão - o original em verso ou uma adaptação proseada - traz uma história tão deliciosa quanto os nomes dos protagonistas (em português a pronúncia não é assim tãããão diferente da grafia, então não se assuste, diga-os em voz alta e entenda metade da graça da língua finlandesa...:D).

Os versos do poema original não têm rima e não seguem uma métrica muito rígida. A versão em português que eu li é uma disponível no Facebook, "Kalevala em Português". Adorei e recomendo esta versão, embora não desista de conseguir encontrar por aí o livro impresso e bilíngue que foi lançado em 2007 pela editora Ateliê das Letras, segundo fontes da Internet.

A história é um barato e dá testemunho da obsessão escandinava por cerveja. Logo na introdução, um verso onde supostamente canta o narrador, que eu achei hilário:

"Vou linda canção cantar,
Uma bem bela entoar,
Depois do pão de centeio,
Da cerveja de cevada.
Se ninguém trouxer cerveja,
Se não se servir cerveja,
Cantarei de boca magra,
Entoarei então com água
Pra alegrar a nossa noite..."

Fico imaginando aquele tio no microfone... "Olha, eu vou cantar aqui e vocês sintam-se à vontade pra trazer um goró e um "catibilisco" aí pra nóis.. senão eu vou cantar na seca, firmeza..!" XD


A história começa com o nascimento de Vainamoinen, que já nasceu velho e gigantesco, filho de uma virgem do ar que vive na água (vai vendo..!). Primeiro ele semeia a terra, depois vence um sem-noção chamado Joukahainen. Mais tarde se reúne ao ferreiro Ilmarinen, com quem vai viver uma relação de parceria e rivalidade ao longo da história, já que ambos vão duelar pelo amor de uma mesma mulher, a filha de Louhi, uma garota tão fútil que não tem nem nome- mas tem uma mãe coroca de amargar. A velha é interesseira e ardilosa, cheia de magia e poderes e não se acanha de usà-los para enrolar quem for e conseguir o que quer. Ela e a filha fizeram Vainamoinem e Ilmarinen de trouxas várias vezes e os dois ainda levaram muito tempo para perceber que a mina não prestava e a sogra era a maior roubada..!
No desenrolar da confusão, eles se juntam a Lemminkäinen, um tremendo mulherengo que por causa disso mesmo vive encrencado, mas sempre tem a barra limpa com a mamãe (e quantos não conhecemos assim, né meninas..?), que também arrumou confusão nas terras da Pohjola ,onde vivem a "bruxa" Louhi e sua filha chatinha, que termina por encontrar um destino tão fútil quanto ela, ao ser assassinada por animais encantados pela ira de Kullervo, serviçal que ela havia humilhado e que já vinha de um triste passado, sendo vendido pelos seus como escravo. A história de Kullervo aparece como uma narrativa paralela, e traz uma severa observação da importância de se criar os descendentes com amor e consideração. Coisas ruins acontecem com crianças "largadas", especialmente as talentosas e naturalmente inteligentes como Kullervo.

Um outro momento incrível da narrativa é um dos momentos finais da história, quando os heróis separam-se por terra e mar para derrotar Louhi. Estando Vainamoinen em terra, preocupado se a "sogra" desvairada vai mandar o monstro Tursas atacar o barco de Lemminkäinen, obtém uma resposta que poderia ser porcamente traduzida como "Ih, relaxa..! Já falei com o Vuvozo, que é mó brother do Tursas e tá indo pra lá com uma grade de cerveja..!"

Claro que não foi isso que ele disse, mas se você duvida que eles resolveram a parada dessa mesma forma, leia pra conferir...Encontrei uma versão proseada e resumida muito boa em um blog chamado "Caverna do Guilherme". O post é antigo e vale a pena baixar enquanto o link ainda está disponível...Ah, e atenção que o arquivo abre em .pdf

Lições atemporais de relacionamentos humanos, dons divinos e personagens de caráter nem sempre intocável aproximam a Kalevala de tantas histórias que até hoje gostamos de ver em livros, filmes e novelas. Os dons mágicos da sabedoria, música e poesia sempre encantaram a humanidade, como encantam os heróis e anti-heróis desse conto que é a essência do nacionalismo finlandês - ou, para os fãs da Sessão da Tarde, "Uma aventura eletrizante com essa turma do barulho que vai colocar a Pohjola de pernas para o ar!"
A maravilhosa saga só poderia ter um final triunfante: a história da virgem Marjatta (Imaculada Conceição), que teve um filho sem intervenção de homem, e esse menino foi declarado que viria a ser o rei da Karelia (região ao Sul onde se passa parte da história). Ao saber do nascimento, o "velho e sábio Vainamoinen" reconhece a superioride deste Mestre e deixa a Kalevala, legado ao povo finlandês sua sabedoria e sua música encantadora.

Aposto que Vainamoinen era do Heavy Metal..! :D

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